Solução para as moratórias vai marcar empresas e castigar banca

NOTÍCIA | 29.09.2021

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Os bancos e as empresas estão preocupados com as condições da recém-criada linha de garantias públicas para o fim das moratórias. Isto porque os créditos reestruturados no âmbito deste programa vão ser considerados como uma reestruturação “normal”, o que vai ter sérias implicações para as duas partes. Vai exigir mais capital à banca e criará um estigma às empresas no sistema financeira. Por causa disso, pedem a intervenção do Governo para resolver o problema, intervindo junto de Bruxelas ou criando outras soluções.

Banco Português de Fomento (BPF) anunciou na sexta-feira uma linha de garantias públicas no valor de 1.000 milhões de euros para reestruturações dos créditos empresariais que estão em moratória – acabam já na quinta-feira. As garantias vão cobrir até 25% do crédito em moratória que for reestruturado, até um máximo de 10 milhões de euros por operação.

banca não está agradada com as regras da linha, como avançou o Jornal Económico, mas as reservas das instituições financeiras vão para lá da necessidade de partilhar colaterais dos clientes com o Estado nas operações que forem reestruturadas e vierem a beneficiar de garantias públicas.

Em causa está o facto de a linha não incluir uma exceção dos reguladores para um tratamento diferenciado destas reestruturações. Ou seja, os bancos vão ter de tratá-las como se fossem reestruturações normais (ignorando o impacto da pandemia), o que vai exigir um maior consumo de capital por via de mais imparidades e do agravamento do risco da carteira de crédito (ainda que em menor dimensão do que se não houvesse estas garantias).

Por outro lado, também há empresas a reclamarem contra aquilo que será a “estigmatização” de que vão ser alvo no futuro. Os créditos reestruturados com esta solução vão ficar marcados pelo menos durante dois anos e serão conhecidos por todo o sistema, e isso terá consequências no acesso a financiamento bancário, como acontece com as outras reestruturações.

“Os bancos e as empresas vão ter de pensar duas vezes antes de recorrerem a esta linha”, confessava uma fonte do setor ao ECO.

“Pressão forte” em Bruxelas

Miguel Maya foi um dos banqueiros que já verbalizou publicamente a insatisfação com esta situação, e pediu a intervenção do Governo para uma “pressão forte” em Bruxelas para mudar o rumo dos acontecimentos.

“Uma reestruturação que resulta de uma pandemia não tem nada a ver com capacidade de gestão, não tem nada a ver com competitividade de mercado, mas tem a ver com um tema específico e devia ser tratado de forma diferente porque ao tratar isto como uma reestruturação normal e de dificuldades financeiras, fica um registo que é extremamente negativo” para as empresas, afirmou esta segunda-feira o presidente do BCP na Conferência Dia Mundial do Turismo, organizada pela Confederação do Turismo em Portugal, que teve lugar em Coimbra.

“Isto é um tema da Autoridade Bancária Europeia e da Comissão Europeia, mas a nossa exigência com o Governo é de procurar uma pressão forte para que isto não seja desta forma e para não estigmatizar algumas empresas que não merecem ser estigmatizadas e que são alheias à crise que atingiu as suas contas”, disse Miguel Maya.

O gestor bancário disse que há “afinações” a fazer na linha, que as negociações com o Governo continuam, mas que também não estará à espera para agir: “Temos instrumentos para poder apoiar a economia”, assegurou.

"Isto é um tema da Autoridade Bancária Europeia e da Comissão Europeia, mas a nossa exigência com o Governo é de procurar uma pressão forte para que isto não seja desta forma e para não estigmatizar algumas empresas que não merecem ser estigmatizadas e que são alheias à crise que atingiu as suas contas.”

Miguel Maya

Presidente do BCP

Empresas apreensivas

Do lado das empresas, também há apreensão em relação a este assunto, sobretudo naquelas relacionadas com a atividade turística, pois o pico do negócio já passou e o inverno promete ser de mais dificuldades.

Associação Rodoviária de Transportadores Pesados de Passageiros (ARP), organização que representa cerca de 130 empresas de transporte turístico, fez questão de sinalizar junto do Governo um problema que será transversal a todo o setor do turismo. Em carta enviada ao Ministério da Economia, a ARP relatou os contactos dos seus associados com a banca. E, para aparente surpresa, “verificou-se que, ao classificar-se o crédito ou contrato com “reestruturado”, será dado o “alerta” junto do Banco de Portugal, o que inevitavelmente trará implicações na concessão de créditos futuros”, revela a missiva.

"Considerando a laboração condicionada, a forte quebra de receitas e os inevitáveis custos fixos, torna-se premente a tomada de um conjunto de medidas alternativas às moratórias e que permitam às empresas sobreviver a esta conturbada e profunda crise.”

Associação Rodoviária de Transportadores Pesados de Passageiros

“Como sabe este é um setor que ainda não conseguiu retomar na plenitude, e que pela sua própria natureza entrará no próximo mês na chamada época baixa, retomando a atividades na Páscoa do próximo ano”, lembra a associação, que pede outras soluções ao ministro Siza Vieira.

“Considerando a laboração condicionada, a forte quebra de receitas e os inevitáveis custos fixos, torna-se premente a tomada de um conjunto de medidas alternativas às moratórias e que permitam às empresas sobreviver a esta conturbada e profunda crise”, escreveu Rui Pinto Lopes na missiva.

Notícia extraída do jornal ECO

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